Transitos de Plutão
A maior parte das pessoas estabelece e reforça sua identidade por meio de apego a pessoas e coisas. O casamento, trabalho, religião, filosofia, filhos, amigos, dinheiro, são usados para conformar e apoiar a identidade, além das crenças que temos sobre nós mesmos.
Sob um trânsito de Plutão, qualquer destes apegos podem simplesmente entrar em colapso ou sair de nossas vidas, indicando o fim de uma fase que pode ativar emoções mais profundas que nos forçam a ver a ferocidade dos nossos apegos. Mesmo os maus apegos como um mal relacionamento, um emprego que não satisfaz ou uma condição insatisfatória, desperta uma sensação de perda. E embora reconheçamos a necessidade de retirarmos isso de nossas vidas, relutamos em enfrentar essas mudanças. É possível até que nos sintamos culpados.
A casa astrológica ou planeta afetados por Plutão indicam as áreas onde os apegos são despedaçados. Plutão rege Escorpião que tem várias representações: o escorpião, a serpente, a águia e a fênix.
O nível inferior de Escorpião é representado pela serpente - simboliza o réptil que troca de pele e - pelo escorpião - o animal que tem o ferrão feroz na cauda. Aqueles que são dominados por este nível agem segundo suas emoções e desejos e estão à mercê de seu estado instintivo e primitivo. Quando estão infelizes, ninguém pode estar seguro. Imersos neste nível, são perigosos porque acham que assim devem ser. É como descrito na fábula da rã e do escorpião; podem se voltar contra pessoas e estruturas onde apóiam suas vidas, por vingança, vontade de mudanças ou apenas pelo espírito de aventura. Nesse processo, podem até destruir a si mesmas.
Aqueles que evoluem para o nível da águia também retiram sua identidade através de algo exterior, dos relacionamentos, de uma filosofia ou de um projeto, e se dedicam a eles com perseverança. Como a águia que voa alto e enxerga mais longe, eles possuem princípios mais elevados. Podem servir com paixão e sentimentos nobres, mas fecham o foco sobre o objeto de devoção. Esquecem da sua natureza ilimitada e infinita ou se inflamam e impõem a si mesmas exigências sobrehumanas. No entanto, se forem ameaçados, podem perder essa visão elevada e destruir cruelmente seus opositores, retornando ao nível da serpente e do escorpião.
Pessoas do nível fênix descobrem que a paixão incendeia a si própria. Quando perdem algo de suas vidas elas se sentem aniquiladas, mas conseguem ressurgir renovadas. A fênix era um pássaro mitológico que a cada vez que era consumido pelo fogo, renascia novamente, tornando-se um símbolo da imortalidade.
Trânsitos de Plutão implicam em encontrar o lado primitivo e instintivo de nossa natureza. Sentimentos de cólera, mágoa, cobiça, inveja, desejos infantis de onipotência, desejos sexuais desregrados, impulsos destrutivos selvagens, são aqueles que envenenam o inconsciente. Religarmos ao que está oculto em nós significa reclamar parcelas perdidas e repudiadas de nossa psiquê, como também liberar os bloqueios de complexos infantis, assim podemos nos reconstruir.
Muito do que existe em nós vem dos primeiros anos de vida e da infância, quando nosso mundo interior orbita em torno das nossas necessidades, do ódio e do amor. Precisamos de alguém que cuide de nós para sobrevivermos e temos imenso amor por quem cuida de nós (a mãe ou babá). Porém sentimos imenso ódio quando não somos cuidados, quando ninguém responde à nossa necessidade de comida e afeto. Daí vem o terrível sentimento do medo de ser abandonado, medo de morrer. Isso faz surgir a frustração, a fúria e a raiva.
No ventre materno e até nos primeiros nove meses de vida, não temos noção de estarmos separados do mundo. Se sentimos fome e frio, o mundo inteiro também está sentindo fome e frio. Sentimos raiva por isso e para nós, o mundo todo está zangado. Mas se atacarmos com raiva o seio materno, pensamos que estamos destruindo a nós mesmos, já que supomos que o seio materno e nós somos apenas um. Dessa maneira, a raiva é suprimida, mantém-se inacabada e irresolvida em algum ponto da nossa psiquê. A raiva não desaparece, fica apenas suspensa temporariamente.
Mais tarde sob um trânsito de Plutão esse ódio e raiva infantil podem ressurgir, sendo desencadeados por pessoas ou situações que agem como um catalizador externo. Também podemos abrigar em nós o sentimento de sermos perversos e repelentes, que vêm de um mecanismo chamado introjeção. Se nossa mãe não nos dava o que precisavámos, a considerávamos perversa. Como achávamos que éramos o mundo inteiro, então também éramos perversos.
Crescemos e no processo de vida nos aproximamos de alguém - relacionamentos, amigos e parentes - ou de algo - trabalho, dinheiro, posses. Proximidade, dependência e raiva estão intimamente relacionadas. Quanto mais próximos de alguém ou de algo, mais nossa felicidade depende deles. Daí surge a inveja que temos daquele que nos controla com seu poder de atração e num determinado momento, para nos livrarmos dessa dependência, podemos querer destrui-lo, para livrarmos do sentimentos de sermos pequenos e inadequados.
O ciúme também está relacionado ao sentimento infantil de precisarmos de nossa mãe para manter nossa sobrevivência. Se percebemos que a atenção dela se dirige mais a algo ou a alguém além de nós, mais uma vez reativa o medo de sermos abandonados. Pelo fato de que uma parte de nós ainda acredita que dependemos de alguém para sobreviver, o ciúme ativa ódio, medo, raiva e ansiedade. Estes sentimentos são reativados por Plutão em transito.
Boa parte de nós tende a negar esses sentimentos e o poder inconsciente que eles tem sobre nós. A maioria consegue expandir sua noção de identidade além do mundo exterior, mas alguns, ao entrar em contato novamente com aquelas emoções da infancia, podem agir e soltá-los indiscriminadamente sobre os outros. As prisões estão cheias daqueles que tentaram isso...
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