fevereiro 20, 2011

Períodos setenários



O instante presente contém em si os resultados de todos os aspectos do passado e as sementes de todos os momentos futuros. O passado e o futuro são infinitos mas são influenciados pelo que ocorre agora. Embora os fatos passados não possam ser alterados, o modo como eles foram percebidos podem ser alterados. Um estado de espírito otimista mostrará um passado feliz e atrairá situações felizes para o futuro; um sentimento de raiva e vingança, atrairá lembranças de rancores e conflitos para o futuro.

O passado nos dá lições diferentes a cada instante. À medida que enfrentamos desafios inéditos enxergamos
significados novos em acontecimentos distantes no tempo. Podemos olhar para o passado e também para o futuro, pois para a alma imortal a vida é uma obra de arte e ela pode ser bem realizada desde o início até o seu final. Do nascimento à velhice, passamos por diferentes fases e cada faixa etária tem uma relação viva com todas as outras.

Aos 70 anos podemos nos reconhecer como a criança de 7 anos que fomos. Aos 18 anos podemos reconhecer o futuro
cidadão experiente de 70 anos. Seja qual for a nossa idade ela contém as heranças das idades anteriores e também as sementes que germinarão no futuro. O livre-arbítrio nos permite eliminar, pela força da compreensão, as sementes negativas herdadas do passado, enquanto podemos germinar, pelo poder da sabedoria, as sementes positivas.

Todas as nossas idades estão presentes em cada momento da nossa vida. Podemos dialogar com os nossos "eus" de cada idade, resgatar e solucionar os conflitos. A vida é um mistério fascinante: nossa existência pessoal é como uma pequena casca de noz que navega durante 80 ou 100 anos pela vida física no planeta Terra situado na periferia de uma galáxia menor. E essa galáxia navega em um mar eterno e infinito, para o qual um período de alguns bilhões de anos é pouca coisa.

Embora a vida física seja passageira, a alma imortal prossegue em busca da perfeição e quando elevamos nossa consciência compreendemos a vida de fato. A criação do mundo repete-se, em pequena escala, cada vez que uma criança é concebida. A criança traz ao mundo uma pureza que é resultado da passagem da alma pelo Devachan, o local divino, o período de descanso espiritual.

Segundo a ciência, a cada 7 anos renovam-se as células do nosso corpo. Igualmente, uma vida humana se divide em
períodos setenários. As diferentes fases da vida têm suas próprias lições e embora a vida de cada um seja um processo único, há algumas tendências gerais, válidas para todos, que facilitam a nossa compreensão da vida como uma obra de arte.
  • Nos primeiros 7 anos, aprendemos a lidar com o mundo físico, vamos para a escola, aprendemos a ler e escrever. Até os 7 anos, nossa alma imortal se consolida como ponte e como síntese entre as circunstâncias físicas e emocionais do nascimento e as potencialidades anteriores. A casca psicológica do eu, feita de hábitos e tendências, começa a se consolidar mas ainda permanece aberta a muitas influências. Daí a necessidade de proteção, de estabilidade e de estímulos positivos que despertem a nossa autoconfiança e a percepção do nosso próprio potencial interno para o bem. Nesta etapa também é muito frequente que tenhamos percepções fundamentais sobre a meta da nossa vida. Então surge a primeira versão do propósito de vida. O escritor Érico Veríssimo confessou, na idade madura, que o rumo da sua vida foi determinado por decisões internas tomadas quando tinha 4 ou 5 anos de idade. Em qualquer etapa da vida, é sempre recomendável verificar se somos leais ao propósito glorioso para nossa existência.
  • Entre os 7 a 14 anos cresce a nossa identificação com o mundo externo e somos envolvidos por uma malha fina de exigências sociais. O período culmina com a entrada na adolescência e o começo de uma grande transição física e emocional em direção à vida adulta. A alma imortal está muito mais preocupada em navegar em um mar agitado de pressões, deveres e emoções. Ainda é necessário que tenhamos estabilidade emocional e estímulos positivos.
  • Entre os 14 e os 21 anos alcançamos a maioridade. Ocorrem agora as primeiras paixões, o primeiro emprego ou o primeiro desemprego e, muitas vezes, o casamento e filhos. Também há almas que embarcam em sonhos mais amplos e aventuras impessoais como um ideal revolucionário, a decisão de viajar pelo mundo, uma busca mística ou a atividade literária. É nessa etapa que fazemos revoluções pessoais e nos projetamos para o futuro. É claro que nem sempre há uma grande dose de acerto em tais tentativas, mas havendo boa intenção os equívocos não serão graves. Mais tarde virá a sabedoria da experiência.
  • Entre 21 e 28 anos de idade surge um poderoso impulso profissional e, conforme a alma e as circunstâncias, aos 28 anos somos plenamente adultos. Já nos estabelecemos e contraimos compromissos que podem durar pelo resto da vida.
  • Dos 28 aos 35 anos surge a fase madura da vida. Astrologicamente, um evento decisivo ocorre entre 28 e 30 anos. Saturno, depois de completar sua volta pelo nosso mapa astrológico, retorna à mesma posição manifestando o fanoso retorno de Saturno. Mestre do tempo, do carma, dos limites e das estruturas, Saturno em sua lenta passagem pelas casas do nosso mapa astrológico define os grandes temas das diversas fases da nossa existência. O primeiro retorno de Saturno, provoca uma avaliação geral das ações feitas até o momento e, muitas vezes, há mudanças radicais na vida. É como se a pessoa encontrasse seu rumo e seu destino. O que houver de falso ou ilusório é destruído porque Saturno exige situações bem definidas. Talvez não faltem obstáculos e crises, mas surgem possibilidades ilimitadas e se abre a fase das grandes realizações.
  • Dos 35 aos 42, percebemos os limites do nosso corpo e sentimos os primeiros efeitos do envelhecimento físico. Podemos ainda ter muitos anos de vida ativa, mas para isso teremos de manter hábitos pessoais que fortaleçam a nossa saúde. A chamada “crise dos 40 anos ou crise da meia idade” força-nos a colocar a sabedoria acima da força. Nos identificamos com mais clareza e já sabemos o que podemos e o que não podemos realizar. Reduzimos as nossas ambições externas, aprendemos a ser seletivos e aproveitamos melhor as oportunidades. Estamos mais realistas e com maior capacidade de concentração. O êxito, profissional e social se amplia. Para muitos, se aprofunda o despertar espiritual abrindo caminho para a plenitude e a libertação interior.
  • Dos 42 aos 49 anos se completa a transição para a meia-idade. Acentua a necessidade de usarmos os nossos talentos para compensar a perda da vitalidade física. As emoções estavelmente negativas, que nunca foram recomendáveis, agora já não são mais toleradas porque passam a ter efeitos diretos sobre a saúde. Há um sentido maior de urgência no viver. Ainda temos saúde, ainda podemos recomeçar a vida, mas não há mais tempo a perder. O final dessa fase traz uma grande tranquilidade para algumas pessoas quando percebem que já cumpriram certos deveres básicos na vida. Essa percepção afasta o medo e dá tranquilidade para viver o futuro. Em muitos casos os filhos já foram criados e a situação econômica está consolidada, a alma se volta para aproveitar melhor a vida. Amamos mais profundamente, damos menos atenção a formalidades e vamos direto ao que interessa. Pela posição de Saturno em trânsito, dos 47 aos 54 anos, podemos ter um período de novo ânimo e grande poder de iniciativa e realização quase como uma segunda adolescência. Os temas da juventude que ainda não foram bem resolvidos podem ser retomados com um esforço profundo de compensação.
  • Entre 49 e 56 anos de idade a alma já tem uma grande quantidade de experiência de vida e ainda está no auge da capacidade de trabalho. Embora o corpo físico continue envelhecendo e requeira mais cuidados, a capacidade de trabalho intelectual se amplia mais do que nas faixas etárias anteriores. Ao mesmo tempo, a cada dia se torna mais importante cortar formas de desperdício da energia vital e adequar a alimentação e outros hábitos pessoais para não desgastar a saúde. É quando queremos ler, escutar música, meditar, refletir sobre a vida e participar de trabalhos voluntários que são atividades positivas que beneficiam nossa vida. A volta à simplicidade preparará uma velhice feliz, fator importante para que a vida dos anos da velhice podem ser mais dourados que os da juventude. Poucos gostariam de voltar à sua fase de 30 ou 40 anos atrás, porque descobrem que a sabedoria e a experiência adquiridas são bens preciosos.
  • Entre 56 e 63 anos ingressamos na idade madura. Os efeitos do 2º retorno de Saturno que acontece dos 57 a 60 anos, trazem novas possibilidades de grandes transformações. Surge uma reavaliação severa dos rumos da vida podendo haver tempestades e mudanças estruturais. Se não houver necessidade de grandes mudanças no rumo da vida, a renovação será interior e a alma avançará produtivamente para a longa reta final que levara à culminação da existência física. É nessa fase que abraçamos uma meta de vida e preservamos a capacidade de aprender com cada fato novo. Agimos com moderação e buscamos sabedoria aproveitando cada momento e retirando o que seja útil e bom. Caminhamos e meditamos no que é eterno, infinito, queremos tranquilidade. Já não queremos nos envolver em situações complicadas e desarmamos qualquer conflito e rancores nas relações pessoais e profissionais. E mesmo realizando atividades produtivas, já não nos desgastamos e mantemos nosso humor leve, apreciamos as belezas e sorrimos para a vida. É um dos períodos mais importantes de nossa vida e que ganha uma importância decisiva. Nos conscientizamos de que o nosso corpo se torna velho e frágil, mas mantemos nossa sabedoria interior e juventude de espírito. Porém há um desafio, quanto mais idade temos mais difícil é fazer mudanças, por isso devemos nos educar ainda quando somos jovens para aprendermos a ser maleáveis e criar hábitos que propiciem uma existência fisicamente longa e espiritualmente correta.
  • Os períodos setenários de 63 até 70 anos e ainda 77, 84, 91, 98 e 105 anos de idade já não são épocas propícias para inovações desnecessárias. No entanto, a atividade profissional e intelectual vivida com serenidade é perfeitamente possível. Viver intensamente o presente é fundamental, evitando dar importância desnecessária aos conflitos. A vida deve ser dedicada à paz interior e aos estados contemplativos. Os assuntos humanos de curto prazo precisam ser tratados com moderação, reconhecendo-se que são coisas de importância passageira. A prioridade é a ampliação dos horizontes e a compreensão das verdades eternas. Já podemos admirar os resultados da nossa vida, mas ainda é possível ampliar o trabalho realizado, aumentando nossa capacidade de amar e de fazer o bem.
À medida que passa o tempo, estamos cada vez mais livres e podemos viver cada dia com intensidade. Assim avançamos harmoniosamente, talvez indo até além dos 100 anos de idade. E quando largarmos definitivamente o nosso velho corpo, iremos para o longo e glorioso período de descanso que a filosofia esotérica chama de Devachan. E ali teremos uma existência abençoada até que o ciclo do renascimento comece outra vez.

Consciente da natureza cíclica da vida universal, Benjamin Franklin, o bem-humorado pensador e líder político norte-americano, escreveu ainda jovem o seguinte epitáfio para si mesmo: “O corpo de Benjamin Franklin, impressor - como a capa de um velho livro, com seu conteúdo gasto e já sem títulos dourados - aqui jaz na condição de alimento para os vermes. Mas o trabalho não estará perdido, pois, segundo ele acreditava, reaparecerá mais uma vez, em uma nova e elegante edição, revista e corrigida pelo autor.”

A vida é infinita e só as formas são passageiras. Temos todos os elementos para construir com eficácia a grande obra de arte que é nossa existência atual. A concepção realista de uma existência humana como um conjunto perfeito do início ao final é algo que nos permite atuar com sabedoria nas diferentes situações. Deste modo fica mais fácil transformar cada dia da vida em uma pequena mas valiosa obra de arte.

Não há conhecimento mais importante do que a ciência de viver. Quando conhecemos e compreendemos uma lei
essencial: na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, tudo se recicla, sabemos que haverá um recomeço. A cada plantio, uma colheita. E a colheita ocorrerá segundo a Lei do Equilíbrio e da Justiça. O universo é simétrico: cada noite tem uma única função, que é preparar o amanhecer...

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